-"Tradição é tradição, se vamos preservá-la, que as coisas sejam conforme antigamente"!
Assim me disse o amigo Daniel Silva, ao me encomendar uma guaiaca serrana, estilo as que os tropeiros usavam.
Duas fivelas e uma "munaia" de uma algibeira atrás pra guardar os cobres, bem no estilo antigo.
Pesquisamos em alguns livros os possíveis desenhos (O gaúcho - J.C Paixão Côrtes, Pilchas do Gaúcho - Véra Stedile Zattera, algumas pesquisas na internet, pinturas, fotos antigas...) e o galo conseguiu uma guaiaca parecida pra tirarmos uma base até chegarmos próximo ao modelo. Olhando o desenho o galo pediu que mudasse alguns detalhes, mas que poderia ser direto no couro..."porque essa coisa de desenho fica meio esquisito"! Entre um mate e outro o esboço foi feito e assim, arreglando os detalhes, mudando daqui, arredondando dali, saiu a guaiaca do "hóme do céu" (como se diz aqui pelas Lages).
Na primeira semana, durante a preparação e corte do couro mateamos e escolhemos as costuras..."Não carece luxo, que os gaudérios tropeiros não tinham isso, é pra ser simples como painel de jipe"... me dizia o taura.
E foi assim (por essa luz que me alumia) que saiu a dita peça!
Couro cru, sovado à quatro caras retovado com tentos de lonca de cabrito. A costura nas bordas foi o "ponto do lado", como chama o amigo e guasqueiro Ximango, que o Daniel já tinha pedido em um cinto que fiz há algum tempo, e do qual gostou muito.
A marca foi com costura de "pelo", os botões de maneia de 4 tentos com presilhas de sovéu. As bordas da algibeira uma "costura de crista", pra ficar simples mas de boa aparência, destacando o corte.
Do esboço inicial (acima) mudando alguns detalhes saiu a baita, e o galo saiu daqui há uns dez minutos, faceiro qual ganso novo em taipa de açude, certo de que não fugiu da escola, se tratando de preservar a tradição!
Bueno, segue a lida, e que o Patrão Maior nos abençoe nessa jornada, pois o serviço, graças a Ele, anda dobrado!
Forte abraço.
Do duro trabalho do homem campeiro se fazem aperos de encilhar a alma, tecendo com os tentos da solidão as noites de tempo feio. Buena lida, guasqueiro de ofício, coisa de poucos, meu xucro vício!
Saludo!
Buenas viventes! Venho mostrar, com humildade, meu ofício de guasqueiro através dos meus trabalhos. Espero que seja do agrado de todos. Forte abraço, e que o Patrão Maior nos abençoe nessa jornada!